Mudanças climáticas podem estar ganhando muitas manchetes hoje em dia, mas alterações globais de temperatura e padrões climáticos não são novidade. Na verdade, os seres humanos lidam com isso há milênios.
Nosso entendimento recente e direto do tema tem levado pesquisadores a revisitar algumas civilizações desaparecidas para investigar o que levou à sua queda. Aqui estão cinco civilizações destruídas — ou cujo declínio foi drasticamente acelerado — pelas mudanças climáticas.
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O Império Khmer // Camboja
Hoje, as ruínas do complexo do templo de Angkor Wat, no Camboja, são visitadas por mais de 2 milhões de pessoas por ano. Construído no início do século XII, o templo serviu como capital religiosa do Império Khmer.
Acreditava-se por muito tempo que o Império Khmer entrou em colapso após o Império de Ayutthaya (atual Tailândia) saquear sua capital em 1431. Porém, cientistas do Greater Angkor Project, sediado na Universidade de Sydney, acreditam que o verdadeiro culpado foi a mudança climática.
Como grande parte do Império Khmer, Angkor era uma “cidade hidráulica” que dependia de uma rede de reservatórios e canais para abastecer cerca de 1 milhão de pessoas. Por volta de 1300, as temperaturas globais começaram a cair, dando início à “Pequena Idade do Gelo”, que duraria até os anos 1800. Dados obtidos em anéis de árvores mostram que o Império Khmer enfrentou secas alternadas com monções intensas que obstruíram sua infraestrutura hídrica com sedimentos. À medida que a população da cidade diminuía, reparar o sistema de irrigação tornou-se impossível.
Falhas nas colheitas e escassez de água levaram a agitações sociais. Os cidadãos se converteram ao budismo, príncipes disputaram o poder, e o Império de Ayutthaya aproveitou a oportunidade para invadir. O saque da cidade em 1431 foi apenas o golpe final.
A Cultura Mississippiana // Estados Unidos
Cahokia, que já foi o maior centro urbano da cultura mississippiana, é hoje um Patrimônio Mundial da UNESCO protegido pelo estado de Illinois como o Parque Histórico Cahokia Mounds. Fica a apenas 15 minutos de carro da moderna St. Louis.
A cultura mississippiana floresceu no sudeste e meio-oeste dos Estados Unidos entre 800 e 1500. Seu povo era conhecido pela construção de montículos elaborados, redes de comércio e agricultura baseada no cultivo de milho, que prosperou durante um período quente e úmido conhecido como Anomalia Climática Medieval. Cahokia cresceu de uma vila agrícola para um importante centro político e religioso que abrigava dezenas de milhares de pessoas.
Mas tudo desmoronou no início da Pequena Idade do Gelo. Amostras de núcleos retiradas de lagos próximos mostram que as chuvas se deslocaram para o oeste, prejudicando a colheita de milho e fazendo o rio Mississippi transbordar. Cahokia foi inundada por volta de 1150.
Após a inundação, arqueólogos notaram um aumento em paliçadas defensivas e vilas queimadas, indicando agitação civil. Quando os europeus chegaram no século XVI, tudo o que restava das grandes cidades mississippianas eram ruínas.
A Civilização Maia // América Central
Abrangendo o sudeste do México, Guatemala e Belize, a Civilização Maia é conhecida por sua arquitetura, escrita hieroglífica e gráficos de astronomia. Embora fragmentos tenham sobrevivido até os tempos modernos, os maias sofreram um colapso político por volta do ano 900.
A Civilização Maia era composta por cerca de 60 cidades-estado, cada uma governada religiosa e politicamente por um k’uhul ajaw. Dependendo da região, os cidadãos desmatavam florestas e utilizavam técnicas de cultivo em terras úmidas ou secas, além de sistemas de irrigação. Os maias haviam encontrado um equilíbrio que funcionava, permitindo-lhes prosperar na América Central — até que uma grande seca atingiu a região.
Evidências dessa mudança climática vêm de estalagmites da Caverna Yok Balum, em Belize. Essas formações precisam de água para crescer e, quanto mais água, maiores elas se tornam; isso proporciona dados precisos sobre chuvas nos últimos 2000 anos. Os dados mostram que os maias prosperaram durante um período excepcionalmente úmido, e o declínio da civilização corresponde a uma das piores secas da história da região.
As cidades-estado maias já não se davam bem em tempos normais, então a seca foi um gatilho para guerras. Civis fugiram e os padrões de comércio mudaram para rotas marítimas, a fim de evitar a violência. Em poucas gerações, as grandes cidades foram praticamente esquecidas.
A Civilização do Vale do Indo // Paquistão e Índia
A cultura Harappan se estabeleceu no Vale do Indo, no Paquistão e na Índia atuais, por volta de 3300 a.C., formando a Civilização do Vale do Indo. Eles prosperaram no vale: o planejamento urbano permitiu que as cidades aproveitassem as inundações anuais do rio por meio de um sistema de gestão hídrica, enquanto o sistema de drenagem mantinha a água afastada das áreas urbanas.
Há cerca de 4200 anos, um dos eventos climáticos mais significativos da época moderna — o Evento de 4,2 mil anos — atingiu a Civilização do Vale do Indo. Uma perturbação nas correntes oceânicas enfraqueceu as monções, que já não iam tão longe para inundar o rio Indo; a civilização teve que abandonar suas cidades e se mover para mais perto da costa. Arqueólogos acreditam que isso interrompeu o comércio entre o Antigo Egito e o Oriente Médio.
Evidências do evento climático vêm de uma estalagmite encontrada nas Cavernas de Meghalaya, na Índia. O impacto foi tão significativo que, em 2018, a União Internacional de Ciências Geológicas reconheceu oficialmente a era geológica atual como a Idade Meghalayana.
O Império Acadiano // Iraque
Os acadianos, considerados por muitos como o primeiro império do mundo, governaram entre 2300 e 2150 a.C. Centrado na cidade perdida de Acádia, o império se estendia por toda a Mesopotâmia, atual Iraque.
O Evento de 4,2 mil anos que devastou a Civilização do Vale do Indo também atingiu o Império Acadiano. O Iraque é atingido por um vento chamado shamal, que carrega areia da Jordânia e da Síria, frequentemente se transformando em tempestades de areia. O clima cada vez mais frio e seco criou ventos mais longos e frequentes, dificultando o cultivo. Estudos arqueológicos mostram que cidades no planalto norte foram abandonadas, e tabuletas de argila mencionam uma migração em massa para o sul.
Os acadianos, porém, tinham sua própria explicação para o declínio — retribuição divina. Eles acreditavam que os deuses estavam irritados com seu líder e enviaram o povo guti para destruí-los como punição. Assim como o Império Khmer, os invasores não foram a verdadeira causa da destruição; o destino do império já havia sido selado pelas mudanças climáticas.